Bolsonaro evoca ‘guerra do bem contra o mal’ em discurso na Marcha para Jesus

“Somos contra o aborto, contra a ideologia de gênero, contra a liberação das drogas e somos defensores da família brasileira”, discursou o presidente em cima do trio

SÃO PAULO – O presidente Jair Bolsonaro (PL) evocou mais uma vez a “guerra do bem contra o mal” e expurgou “as dores do socialismo” na maior das Marchas para Jesus do país, a de São Paulo.

“Temos uma posição aqui: somos contra o aborto, contra a ideologia de gênero, contra a liberação das drogas e somos defensores da família brasileira”, disse o pre-candidato à reeleição neste sábado (9), no trio principal do evento.

Após ver uma multidão ajoelhada nas ruas do centro paulistano, Bolsonaro clamou pela maioria cristã do país. “Somos a maioria do país, a maioria do bem, e nessa guerra do bem contra o mal o bem vencerá outra vez.”

Em seguida, o presidente alertou os fiéis sobre um suposto risco de o Brasil virar uma nação pintada de vermelho socialista. “Que nosso povo não experimente as dores do socialismo”, afirmou, pedindo que as pessoas olhassem ao redor da América do Sul. Citou Venezuela e também países que, nos últimos anos, elegeram líderes de esquerda: Argentina, Chile e Colômbia. “Não queremos isso para o nosso Brasil.”

Bolsonaro subiu por volta das 10h no trio, com uma comitiva política que incluiu Tarcísio de Freitas, seu candidato a governador paulista, e o deputado Marco Feliciano, ambos do PL de SP. O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles também estava lá.

Tarcísio adotou um tom pastoral ao discursar para o público de cima do trio. “Vejo uma profecia se realizando, a profecia da união do povo de Deus”, disse. Depois, distribuiu “bênçãos” e enalteceu “a palavra profética”.

O apóstolo César Augusto, que discursou no trio ao lado de Bolsonaro, disse depois à Folha que seu desejo são mais “quatro anos de benção” com o presidente à frente do país. Ele lembrou que os petistas Lula e Dilma Rousseff foram convidados em anos anteriores, mas não passaram na Marcha.

Bolsonaro se dirigiu três vezes ao público, duas delas no trajeto e a última no palco montado perto do Campo de Marte, destino final da marcha.

Ali, repetiu com outras palavras o que já havia dito no ponto de partida: cuidado com comunismo e socialismo e defender a nação de males progressistas como a ideologia de gênero.

Acrescentou à sua fala, ainda, algumas vacinas contra a crise econômica que afugentou boa parte dos eleitores que lhe deram preferência em 2018. Disse que a pandemia está se encaminhando para o fim e lembrou da guerra na Ucrânia, que fez economias do mundo todo despencarem.

Também reprisou a falsa ideia de que sua gestão é livre de atos corruptos. “Tem uma coisa que nos faz ter a consciência tranquila: somos um governo que acabou com a palavra corrupção.” Ignorou episódios como o escândalo no MEC, que envolveu dois pastores que tinham canal com a Presidência.

O presidente foi à sua primeira Marcha para Jesus em 2018. Já ocupava, então, a cabeceira na corrida pelo Palácio do Planalto, mas ainda não era unanimidade entre os grandes líderes evangélicos do país. Muitos só embarcaram na sua campanha depois.

O líder da Marcha para Jesus disse à Folha, na época, que a Bolsonaro faria bem em “pregar mais amor e tolerância”. Hoje aliado do presidente, Hernandes diz pensar diferente. Afirmou ao jornal nesta semana que, após conhecer o chefe do Executivo, sentiu que era um homem de Deus.

As duas edições seguintes da marcha caíram por conta da pandemia. Em vez de povo caminhando na rua, a organização optou por carreatas, mas sem a dimensão original nem a presença de autoridades, que costumam bater ponto no evento sobretudo em ano eleitoral.

BANDEIRA EMPACA

José Henrique Batista, 37, veio de Piracicaba para participar da marcha. “Não estou interessado em discurso de político, mas faz parte, né? Olha a multidão. Tem muita gente aqui que acredita no que eles [políticos] falam. Eu acredito em Deus”, disse ele, bandeira do Brasil enrolada ao corpo.

A venda da bandeira brasileira, porém, frustrou parte dos ambulantes. A reportagem conversou com ao menos 30 deles. “Está muito devagar. A crise está feia para todo o mundo “, disse Alexandre Campos, 39 anos, 20 deles como ambulante. “Perguntam o preço, querem tirar foto com a bandeira, mas não levam.”

Em sábado de sol forte, os bonés, R$ 20, em média, tiveram mais saída. A bandeira brasileira, com preços entre R$ 25 e R$ 40, empacou. Uma das faixas de cabeça mais populares trazia “100% Jesus” escrito em strass, as pedrinhas brilhantes.

Balões azuis, verdes e amarelos decoravam alguns dos trios que lideraram a caminhada, carros alugados de nomes como Titan e Canibal.

Fonte: folha.uol.com.br

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